Farmacêuticas brasileiras: dependência da China precisa acabar

POR EGLE LEONARDI E JÚLIO MATOS
A pandemia do novo coronavírus, que teve inicio no final de 2019 na China, já contaminou mais de 3,5 milhões de pessoas, matando mais de 250 mil. Muitos têm sido os esforços do setor privado, em parceria com o setor público, para se chegar a uma terapêutica eficiente para a Covid-19, mas até o momento não se chegou a nenhum medicamento ou vacina capaz de frear a disseminação do vírus. Nesse cenário a indústria farmacêutica nacional precisa solucionar um problema antigo: a dependência de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), que são a matéria-prima para a produção de medicamentos.
 
Atualmente, o Brasil importa entre 80% e 90% dos IFAs consumidos pelos laboratórios farmacêuticos instalados no País. Desse total, cerca de 60% vêm da China, seguida pela Índia, Alemanha e Suíça. Mas essa não é uma realidade apenas brasileira. Maior economia do mundo, os Estados Unidos importam 72% dos IFAs que precisam.
 
 
Se, no momento, o foco deve ser a adoção de medidas para controlar o contágio e tratar as pessoas infectadas, passo importante para reduzir novos casos e permitir que as pessoas e empresas possam retomar gradualmente suas atividades, o planejamento de médio e longo prazos não pode ser ignorado. Na guerra contra o novo coronavírus, e outros que provavelmente ainda vão surgir, é preciso definir o mais rápido possível uma estratégia de segurança e defesa nacional.
 
Uma estratégia na qual as tecnologias mais avançadas na área farmacêutica estejam também sob domínio nacional, com produtos necessários para enfrentar nossas doenças e epidemias não controladas ou que infelizmente têm retornado (dengue, malária, sífilis, tuberculose), bem como as mais avançadas tecnologias necessárias para atender a uma população cada vez mais idosa e demandando medicamentos mais sofisticados.
 
Indústria de defesa
 
Num contexto em que as relações internacionais são pautadas por um complexo jogo de interesses e normas que estimulam ou limitam a capacidade de atuação dos países, o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis, deve ir além das questões relacionadas diretamente à área militar.
 
Na área farmacêutica é preciso avançar na pesquisa e inovação de novos produtos, aproveitando a biodiversidade brasileira, aproximar mais das áreas universitárias de pesquisa aplicada e ampliar a produção de IFAs, reduzindo a dependência externa. E, com isso, consolidar a produção dos medicamentos biotecnológicos, cuja produção no Brasil já foi iniciada pelas indústrias do Grupo FarmaBrasil (GFB).
 
A pandemia da Covid-19, que teve grande impacto na produção da China e Índia que provocou restrições nas exportações dos ingredientes, atraso nas entregas e alta de preços devido à maior demanda internacional, levou a indústria farmacêutica nacional a refazer suas linhas de suprimentos e repensar suas estratégias para os próximos anos.
 
Hoje, a indústria farmacêutica nacional investe em média 8% da sua receita líquida anual em P&D, o que já gerou 94 estudos clínicos e mais de 880 patentes em análise ou concedidas. Além disso, tem uma forte presença internacional, ampliando a área de atuação da indústria brasileira no mercado exterior.
 
Apesar disso, o Brasil continua a importar, de maneira crescente, medicamentos de todos os tipos, principalmente aqueles de maior valor agregado. Em 2019, a balança comercial do setor foi deficitária em US$ 6,091 bilhões, resultado principalmente da importação de US$ 7,065 bilhões —30% apenas de medicamentos biotecnológicos, que representam um dos principais custos do governo na compra de medicamentos.
Mas a indústria farmacêutica nacional, que se mostrou competitiva nos últimos 20 anos, mesmo diante de um cenário econômico desfavorável, pode contribuir para reduzir essa dependência, ofertando produtos de alta tecnologia, além dos genéricos e similares.
 
A indústria farmacêutica nacional já tem direcionado a produção para esses medicamentos biotecnológicos extremamente relevantes para o Sistema Único de Saúde (SUS). Esses produtos são destinados ao tratamento de diversas doenças como artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoriásica e psoríase, vários tipos de câncer e esclerose múltipla.
 
Frente ao cenário atual, sediar uma produção local desses medicamentos provavelmente será ainda mais estratégica diante das consequências (de saúde pública e econômicas) da pandemia da Covid-19.
 
Com informações do artigo da Folha de S. Paulo, assinado pelo presidente e presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, Dante Alário Júnior e Reginaldo Arcuri, respectivamente.
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