Indústria farmacêutica à frente da vacina contra o coronavírus

POR EGLE LEONARDI E JÚLIO MATOS
Nunca se falou tanto da indústria farmacêutica quanto neste período da Covid-19. Que todos conhecem sua essencialidade em prol, principalmente, da produção de medicamentos para melhorar a saúde das pessoas, não é novidade. Mas a pandemia do novo coronavírus deu a ela status de protagonista. O que todos esperam ansiosos é uma vacina eficaz contra o coronavírus, e essas pesquisas movimentam o bilionário mercado das farmacêuticas, assunto muito oportuno porque em 25 de maio foi celebrado o Dia da Indústria.
 
 
Com relação às vacinas, os testes estão sendo feitos em países como China, Reino Unido e Alemanha. Mas nos Estados Unidos, em especial, muito dinheiro está sendo investido nesse tema. E, no começo da semana passada a coisa foi bastante forte, em Nova Iorque, em Tóquio e, depois, também em Frankfurt. Tudo começou, por conta das notícias sobre a empresa farmacêutica Moderna, a primeira a testar em humanos uma vacina para Covid-19 nos Estados Unidos.
 
Em todo o mundo, estão sendo testadas possíveis substâncias ativas para uma vacina. O número de projetos é superior a 120, desde pequenas empresas, como as alemães Biontech e Curevac, a grupos globais, como a Sanofi e a GlaxoSmithKline. As ações da Moderna subiram quase 20% depois que a substância candidata a vacina da empresa mostrou resultados promissores nos testes iniciais.
 
A Moderna teria um acordo com a empresa farmacêutica suíça Lonza para poder fabricar a vacina em grandes quantidades após a aprovação. Em Zurique, as ações da Lonza chegaram a subir temporariamente em mais de 4%, uma alta recorde. A FDA, agência federal americana responsável pela supervisão dos medicamentos no país, anunciou então a perspectiva de uma aprovação acelerada do medicamento.
A vacina mRNA-1273, desenvolvida em conjunto com a autoridade sanitária americana NIH, causou uma reação imune em oito dos 45 participantes do estudo, como anunciou a Moderna na segunda-feira (18/05). “Embora preliminares, os resultados intermediários da primeira fase mostram que a vacinação com o mRNA-1273 pode desencadear uma resposta imune da mesma ordem de magnitude que a causada por uma infecção induzida naturalmente”, disse o diretor médico da Moderna, Tal Zaks.
 
Os resultados completos da primeira fase dos testes clínicos ainda não são conhecidos. O governo dos EUA está gastando bilhões em desenvolvimento de vacinas por meio de dois programas diferentes. Primeiramente, Washington apostou no setor privado e num programa de apoio correspondente.
 
Para isso, a agência estatal Barda (sigla em inglês para Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Avançado) tem US$ 3,5 bilhões (R$ 19,23 bilhões) à disposição. A Moderna também recebe verba da mesma fonte. Um pouco mais tarde, veio a Operação Warp Speed (significa algo como velocidade mais rápida que a da luz).
 
As primeiras conversas sobre a vacina surgiram no final de abril, entretanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já apresentou publicamente apenas uma parte destas. Com um total de US$ 10 bilhões (R$ 54,93 bilhões), o desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus se tornou uma tarefa nacional, comparada por Trump ao Manhattan Project, o projeto americano de desenvolvimento da bomba atômica na década de 1940.
 
Os detalhes do programa permanecem secretos, mas se sabe que 14 possíveis vacinas estão sendo avaliadas com mais atenção. Vale lembrar que ano passado, o movimento antivacina saiu muito caro, movimentos nas redes sociais eram incalculáveis a ponto delas tomarem a frente e bloquearem toda e qualquer desinformação desta natureza. Mas, segundo o site Stat News, postou uma matéria no dia 19/5, que caiu como uma bomba no mercado financeiro.
 
Segundo o portal, “enquanto Moderna explodiu a mídia, ela revelou muito pouca informação – e a maior parte do que divulgou foram palavras, não dados. Isso é importante: se você pedir que os cientistas leiam um artigo de jornal, eles vasculharão as tabelas de dados, não as declarações corporativas. Com a ciência, os números falam muito mais alto que as palavras”.
 
Mesmo os números divulgados pela empresa não significam muito por conta própria, porque as informações críticas – efetivamente a chave para interpretá-las – foram retidas. Especialistas sugerem que devemos fazer a leitura antecipada com um grande grão de sal. Aqui estão algumas razões do porquê:
· Falta de Dados sobre o parceiro da Moderna e do governo dos EUA no desenvolvimento da vacina, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas – NIAID
· Falta de dados sobre respostas ao medicamentos de outros participantes no estudo com 45 indivíduos
· Apenas 8 dos 45 sabe uma resposta mais detalhada, porem sem citar a idade, e os outros 37 não foi noticiada os resultados.
· Os dados são baseados em respostas iniciais à vacina, deixando em dúvida quanto tempo a imunidade produzida pela vacina pode durar.
· Não existe uma maneira real de contextualizar as descobertas.
 
O Stat News solicitou à Moderna informações sobre os níveis de anticorpos utilizados como comparador. A resposta: Isso será divulgado em um eventual artigo de jornal do NIAID, que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde.
 
A União Europeia recentemente levantou 7,4 bilhões de euros (R$ 44,19 bilhões) em uma conferência internacional para apoiar pesquisa e produção de vacina. As fronteiras dos países, afirmou segundo as autoridades do bloco, não podem ser determinantes na hora de se decidir para quem esse dinheiro vai.
 
A Biontech, sediada em Mainz, realiza o primeiro estudo clínico na Alemanha em pacientes saudáveis há algum tempo, e os dados podem estar disponíveis a partir do final de junho. O trabalho é feito em parceria com a empresa americana Pfizer e a chinesa Fosun Pharma. No caso de aprovação, a Pfizer poderá fornecer milhões de doses de vacina até o final do ano, segundo Ugur Sahin, chefe da Biontech.
 
Outro ator na corrida global é a Curevac, da também alemã Tübingen. Segundo o coproprietário Dietmar Hopp, os testes clínicos podem começar dentro de semanas. Ele diz que sua empresa estaria em condições de dispor de uma vacina no segundo semestre deste ano. Mas esses calendários são ambiciosos. Porque a fase de teste em milhares de pessoas precisa provar que a vacina funciona com segurança e não causa danos. De qualquer forma, a corrida pela vacina está em pleno andamento na indústria farmacêutica.
 
A China já tem uma vantagem que não dá para se ignorar. Em meados de janeiro, o principal general das Forças Armadas chinesas Chen Wie, recebeu ordem para trabalhar na pesquisa para uma vacina, informou o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. O resto do mundo só teve acesso às primeiras amostras do novo vírus no final de janeiro.
Com informações da Deutsche Welle
 
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