Parcerias com China e Índia: inovação em súde no Brasil
País tem uma oportunidade ímpar de estabelecer colaborações que podem transformar o setor de saúde.
A modernização do sistema de saúde brasileiro passa, inevitavelmente, pela inovação tecnológica e pela expansão da capacidade de produção nacional de medicamentos e insumos estratégicos. Neste cenário, China e Índia despontam como parceiros estratégicos fundamentais para impulsionar avanços em biotecnologia, inteligência artificial na saúde, produção farmacêutica e inovação hospitalar. O Brasil, ao integrar o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tem uma oportunidade ímpar de estabelecer colaborações que podem transformar o setor de saúde pública e privada, reduzindo custos, ampliando o acesso e promovendo a transferência de tecnologia.
A China e a Índia são líderes globais na indústria farmacêutica, com destaque para o desenvolvimento de biofármacos, anticorpos monoclonais e terapias celulares avançadas. Empresas como WuXi Biologics, Sinopharm, BeiGene e CanSino Biologics possuem expertise que pode ser incorporada pelo Brasil através de parcerias estratégicas. Modelos de transferência de tecnologia e cooperação científica permitiriam a instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país, capacitando cientistas e médicos brasileiros, além de viabilizar a produção nacional de biossimilares e medicamentos de alto custo.
No caso da Índia, a liderança na produção de genéricos e biossimilares e sua grande capacidade na fabricação de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) oferece ao Brasil a possibilidade de reduzir sua dependência de importações da Europa e dos Estados Unidos. Empresas como Sun Pharma, Dr. Reddy’s, Biocon e Cipla poderiam estabelecer unidades de produção local em modelos de parcerias público-privadas (PPPs), garantindo maior segurança sanitária e autonomia farmacêutica para o Sistema Único de Saúde (SUS).
A digitalização dos sistemas de saúde é um imperativo global. A China e a Índia já avançaram muito na implementação de soluções de inteligência artificial (IA), telemedicina e automação hospitalar. O Brasil pode se beneficiar dessa expertise através de cooperações para o desenvolvimento de prontuários eletrônicos inteligentes, diagnósticos assistidos por IA e monitoramento remoto de pacientes. A construção de hospitais inteligentes, com foco em eficiência energética e automação, poderia ser acelerada com parcerias com empresas indianas que já operam modelos inovadores.
A ampliação da telemedicina no Brasil, sobretudo em regiões remotas, também pode se beneficiar do conhecimento desses países. A criação de Centros de Inteligência de Saúde Pública no Brasil, com apoio de capital e expertise chinesa e indiana, possibilitaria um salto qualitativo na prevenção e no manejo de doenças crônicas e emergências sanitárias.
A Índia é um dos principais polos globais de ensaios clínicos. O Brasil pode atrair investimentos para realizar estudos de fase 3 no país, acelerando a aprovação de novos tratamentos.
A expertise indiana em terapias avançadas, como CAR-T e edição genética CRISPR pode abrir caminhos para o desenvolvimento de tratamentos de ponta no Brasil.
No campo do financiamento, a utilização de fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de bancos internacionais pode viabilizar os investimentos necessários para concretizar essas parcerias. Modelos de contratos de longo prazo podem garantir a sustentabilidade dos projetos e permitir o retorno dos investimentos.
O Brasil tem uma oportunidade única para modernizar seu sistema de saúde e se posicionar como um polo de inovação. A chave para esse avanço está na transferência de tecnologia, no desenvolvimento de infraestrutura e na digitalização da gestão hospitalar. Com parcerias estratégicas com China e Índia, podemos fortalecer nossa indústria farmacêutica, expandir o acesso a novas terapias e tornar a medicina brasileira mais eficiente, acessível e avançada.
Fonte: O Globo