Vacina em comprimido para covid-19: ações de farmacêutica crescem 500%

POR EGLE LEONARDI E JÚLIO MATOS
Na semana passada, a empresa de biotecnologia norte-americana, Vaxart, anunciou que conseguiu resultados positivos em testes para uma possível vacina contra o novo coronavírus. Na mesma terça-feira (21/4), investidores correram para apostar na companhia e as ações subiram mais de 30%.
 
Depois da disparada, em movimento de ajuste, os papéis fecharam em queda no dia seguinte e na última quinta (23/4) recuaram cerca de 10%, na casa dos US$ 2,64 (R$ 14,76). Mesmo com a diminuição do ímpeto dos investidores, as ações da empresa acumulam alta de mais de 500% no índice Nasdaq, que reúne as principais empresas de tecnologia na Bolsa de Nova York. E foi exatamente em janeiro que a Vaxart anunciou que tinha lançado um programa para criar algum medicamento realmente efetivo à Covid-19.
 
 
A solução apresentada pela companhia é baseada em um comprimido, que deve ser ingerido à temperatura ambiente, e que representaria uma vantagem em relação a soluções injetáveis. Concorrentes como Novavax, Inovio, Moderna e Gilead também viram suas ações se valorizarem depois de comunicarem avanços em pesquisas sobre vacinas contra a doença causada pelo coronavírus.
 
Analistas pregam calma antes de embarcar em investimentos nas ações da Vaxart. Isso porque é difícil saber se a empresa conseguirá alcançar uma cura agora. Por enquanto, é especulação – algo que alguns investidores apreciam nesses momentos turbulentos. Em longo prazo, ainda há dúvida se vai ser, de fato, a Vaxart que chegará à frente no fim dessa corrida.
 
Sobre a companhia
 
A Vaxart foi fundada em 2004, na Califórnia, nos Estados Unidos, berço das startups e da inovação no país. Tem ações negociadas na Nasdaq, a bolsa de tecnologia norte-americana, onde é avaliada em cerca de US$ 190 milhões (R$ 1.064 bilhão).
 
A empresa atual resulta de uma série de fusões no setor ao longo dos anos. Sua sede fica na cidade de South San Francisco. O fundador e diretor científico, Sean Tucker, é engenheiro químico com Ph.D. em imunologia e o presidente, Wouter Latour, tem experiência executiva em grandes empresas farmacêuticas e biotecnologia, como Genelabs, SmithKline Biologicals e Novartis.
 
A companhia é focada em criar vacinas orais, administradas por meio de um comprimido conservado em temperatura ambiente (dispensando refrigeração), em vez de injeção. “Vacinas são um dos meios mais econômicos de proteger populações de doenças infecciosas. Para cumprir todo o seu potencial, elas precisam ser fáceis de fazer, fáceis de distribuir e fáceis de tomar”, diz o presidente ao resumir a missão da empresa, em sua página oficial.
 
A Vaxart também está trabalhando para desenvolver uma fórmula líquida para crianças pequenas e adultos que não conseguem engolir comprimidos (a exemplo da que era usada no Brasil contra o vírus da poliomielite, na campanha conhecida pelo famoso personagem Zé Gotinha).
 
De acordo com a empresa, ao envolver o intestino delgado, esse tipo de vacina é capaz de gerar respostas sistêmicas amplas e também respostas imunológicas nas mucosas, o que resultaria em uma imunidade “robusta e persistente”. Essa seria uma “característica única” das vacinas da empresa e trariam um resultado que as injetáveis não conseguem.
 
A tecnologia para a criação dessas vacinas orais é registrada em patentes nacionais e internacionais, segundo a empresa.
 
Atuação
 
A empresa está atualmente desenvolvendo possíveis vacinas contra agentes de várias doenças infecciosas. Entre eles estão o norovírus, que causa problemas gastrointestinais; o influenza sazonal, vírus da gripe; o vírus sincicial respiratório, que causa doenças respiratórias; e os vírus H5N1 (da gripe aviária) e H1N1 (da gripe suína). O grupo diz que os comprimidos já foram testados em mais de 400 indivíduos e que, até agora, os estudos mostraram segurança e tolerância ‘favoráveis’.
 
Também trabalha em sua primeira vacina terapêutica voltada ao câncer de colo do útero e à displasia causados pelos vírus HPV tipo 16 e 18.
A vacina contra o novo coronavírus está na fase inicial do processo de desenvolvimento de medicamentos, a dos estudos pré-clínicos – quando são feitos testes em animais. As pesquisas estão sendo conduzidas em parceria com a Emergent BioSolutions.
 
Terminada essa etapa, a vacina deve seguir para a fase 1 do estudo clínico, quando começam os testes em uma parcela reduzida de humanos. A Vaxart espera que isso aconteça no segundo semestre deste ano.
 
Nenhuma das vacinas desenvolvidas pela empresa, porém, já chegou ao mercado. A mais avançada, a vacina monovalente contra o influenza sazonal, está na fase 2 dos estudos clínicos – que é quando os testes em humanos são ampliados. É nessa fase que são avaliadas as reações ao medicamento testado e definidas as doses a serem aplicadas, por exemplo.
 
Para se tornar um produto comercial, o estudo ainda tem de passar pela fase 3 do estudo clínico (quando o medicamento testado é comparado com outros e, depois, encaminhado para aprovação dos órgãos reguladores). Depois, o produto vai para o mercado, mas ainda passa pela fase 4, quando os possíveis efeitos colaterais são analisados.
 
A empresa é dona, no entanto, dos direitos do medicamento Inavir, usado para prevenir e tratar gripe, licenciado no Japão.
Com informações da CNN Brasil
 
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