Vacina: produção de vidro é insuficiente para atender à indústria farmacêutica

POR EGLE LEONARDI E JÚLIO MATOS
Os esforços das indústrias farmacêuticas mundiais estão concentrados no desenvolvimento de uma vacina eficiente contra o coronavírus. No entanto, não bastasse todas as dificuldades para se chegar, o quanto antes, em um resultado positivo, outro gargalo imprevisto está em pauta: há uma escassez de frascos que guardam as doses e do vidro especial de que são feitos.
 
O vidro para indústria farmacêutica estava em falta há vários meses. Agora, grandes fabricantes como a Corning dizem que fabricantes de medicamentos e governos estão fazendo grandes movimentos para aumentar os suprimentos para as vacinas contra a Covid-19.
 
Só a Johnson & & Johnson comprou 250 milhões de frascos. A Schott, uma das maiores fabricantes de vidro para produtos farmacêuticos do mundo, diz que os pedidos que recebeu por um bilhão de frascos são o dobro do que pode produzir neste ano. Para garantir seus próprios estoques, uma organização sem fins lucrativos global está comprando linhas de produção de vidro.
“Todo mundo que está fazendo uma vacina quer ter acesso aos frascos”, disse, o executivo-chefe da Catalent, John Chiminski, ao Dow Jones Newswires. A empresa terceirizada fabrica vacinas para a AstraZeneca e outros laboratórios. “De onde virá esse vidro?”.
 
 
O desafio do suprimento ressalta os obstáculos que ameaçam uma campanha de imunização diferente de qualquer outra que o setor de saúde global já vivenciou.
Muita atenção do público se concentrou nos avanços dos pesquisadores que desenvolvem vacinas contra o coronavírus. Também importantes e desafiadores, dizem os representantes do setor, é um trabalho mais rudimentar, mas essencial, que garante a oferta de tampas, seringas e outros componentes de embalagem.
 
Um candidato a vacina da Merck precisa ser armazenado em freezers ultrafrios, um sério desafio para países que não possuem esse equipamento ou sofrem frequentes apagões elétricos. A Merck inicialmente armazenará seu candidato em temperaturas muito baixas no laboratório e trabalhará para desenvolvê-lo para que possa ser armazenado em condições típicas de geladeira, disse um porta-voz.
 
Por trás da escassez de frascos estão reservas limitadas do material de que são feitos os pequenos recipientes. O vidro medicinal é diferente dos tipos comuns usados ​​para recipientes ou copos domésticos. O vidro para medicamentos contém produtos químicos que o tornam resistente a mudanças drásticas de temperatura e mantêm as vacinas estáveis. Fazer frascos com vidro especial, que pode levar dias ou até semanas, envolve fundir as matérias-primas, encaixá-las em tubos longos e depois convertê-los em frascos.
 
Os frascos normalmente custam menos de US$ 1 cada (R$ 5,26), disseram representantes do setor. A Gerresheimer, que faz frascos para grandes fabricantes de vacinas, não aumentou os preços, apesar da grande demanda por vidro, devido à gravidade da pandemia, disse o presidente-executivo, Dietmar Siemssen. “Não estamos pressionando nossos clientes”, afirmou.
 
Mesmo antes do surgimento do novo coronavírus, começou a haver problemas com os suprimentos de vidro médico quando a China passou a exigir recipientes para armazenamento prolongado de produtos farmacêuticos. Os esforços para conseguir vidro para vacinas e medicamentos contra o coronavírus usados ​​no tratamento de pacientes com covid-19 pioraram a escassez, segundo representantes das indústrias farmacêutica e do vidro.
 
“Existe uma escassez global de vidro”, disse James Robinson, consultor que está ajudando a Coalizão de Inovações em Preparação contra Epidemias (Cepi), um grupo de Oslo que está financiando projetos de vacinas contra o coronavírus.
O grupo comprou linhas de produção em fábricas na Itália e no México por preocupação de que os países possam impedir as exportações de vidro medicinal para preservar seus próprios suprimentos.
 
A compra de 250 milhões de frascos pela J&J nos EUA no início da pandemia fez com que outros fabricantes de vacinas tivessem que sair em busca de vidro, disse Robinson, que passou três décadas fabricando vacinas em vários laboratórios. O candidato a vacina da empresa deve iniciar testes em humanos no próximo mês.
A J&J disse que suas parcerias com reguladores, organizações de assistência médica, fornecedores e instituições em todo o mundo ajudarão a produzir rapidamente mais de um bilhão de doses em todo o mundo.
 
A Corning assinou na semana passada um acordo de US$ 204 milhões (R$ 1.073 bilhão) com o governo dos EUA para expandir sua capacidade e produzir frascos de vidro medicinal para vacinas contra o coronavírus. A Corning planeja produzir dezenas de milhões de frascos nas próximas semanas, disse Ronald Verkleeren, que supervisiona a divisão de ciências da vida da empresa.
Com informações do Dow Jones Newswires no Valor Econômico
 
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