Covid-19: indústria tem aumento de demanda, mas FDA contraindica cloroquina

POR EGLE LEONARDI E JÚLIO MATOS
O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, com o apoio do FDA, divulgou documento que contraindica o uso da combinação de hidroxicloroquina com azitromicina para o tratamento da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. O órgão também não indica o uso de lopinavir/ritonavir, medicamentos que também têm sido apontados como possíveis terapêuticas. Apesar disso, Teva e Pfizer sentem aumento expressivo na demanda por esses medicamentos.
 
A recomendação foi elaborada por especialistas de pelo menos 13 entidades, entre elas a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana. O documento indica o uso das drogas citadas somente em ensaios clínicos.
 
 
A combinação de hidroxicloroquina e azitromicina é desencorajada por causa de sua potencial toxicidade. Com relação somente à hidroxicloroquina e à cloroquina, o Instituto afirma que ainda não há dados suficientes para uma indicação a favor ou contra as drogas no tratamento da Covid-19, porém o uso deve ser acompanhado do monitoramento dos efeitos adversos, considerando o risco de alterações cardíacas e mal súbito.
 
O documento afirma ainda não haver evidências para indicação ou desencorajamento do uso do remdesivir, também em estudo contra a doença. As recomendações reproduzem a cautela do diretor do Niaid, Anthony Fauci, quanto ao assunto e se contrapõem ao otimismo do presidente norte-americano Donald Trump em relação à droga, situação semelhante aos diferentes tons do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
 
No Brasil
 
O ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou ontem (23/04) que não há ‘recomendação da pasta para uso de hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, mas sim uma ‘autorização. Segundo ele, a prescrição fica a critério do médico, conforme posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) externado em reunião nesta quinta-feira.
 
“É importante deixar claro que permitir uso a critério do médico não representa uma recomendação do Ministério da Saúde. Seja com hidroxicloroquina ou qualquer outro medicamento, a recomendação vai acontecer no dia em que tivermos uma evidência científica clara de que o medicamento funciona. Não é uma recomendação nossa, é uma autorização”, afirmou o ministro para O Globo.
 
Sem efeito
 
Um novo estudo americano ainda não publicado e revisado por pares analisou uso de hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes internados com Covid-19 e não observou eficácia do tratamento em reduzir mortes ou necessidade de respiração com auxílio de máquinas.
 
A pesquisa encontrou também uma mortalidade maior nos pacientes que tomaram somente hidroxicloroquina. Problemas metodológicos, no entanto, não permitem tirar conclusões seguras sobre o uso da droga.
 
O estudo em questão é retrospectivo, ou seja, avalia casos passados, o que já diminui o nível de evidência. Os pesquisadores utilizaram informações do banco de dados americano do sistema de saúde destinado a veteranos dos EUA referentes ao período de 9 de março a 11 de abril.
 
Caça terapêutica leva à falta nos estoques
 
Trump chegou a afirmar que a associação de hidroxicloroquina e azitromicina era um possível “divisor de águas” para o tratamento da Covid-19 e grandes indústrias farmacêuticas tiveram considerado aumento da demanda do antibiótico.
 
Em comunicado, a Teva, por exemplo, disse que forneceu uma quantidade sem precedentes de azitromicina e planeja continuar produzindo o máximo possível, o mais quanto antes. Enquanto isso, a Pfizer registrou escassez de várias embalagens de seu genérico azitromicina, vendido sob a marca Zithromax, com novos pedidos que devem começar a ser lançados em maio. Também em comunicado, a farmacêutica disse que estava “monitorando contínua e diligentemente” seu suprimento do medicamento, apesar da demanda crescente.
 
“Estamos fazendo todos os esforços para avançar no pedido de materiais adicionais, aumentar nossa produção, reduzir os prazos e agilizar os pedidos para os clientes, especialmente aqueles em áreas de alto impacto”, disse a Pfizer.
 
Alerta
 
“A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) manifesta sua grande preocupação pelo uso indiscriminado de medicamentos, vitaminas, antioxidantes, entre outros, sem qualquer comprovação científica de eficácia e segurança de seu uso”, diz trecho de documento recente do órgão publicado pela Folha de S. Paulo.
 
A SBI afirma que os estudos não randomizados e não controlados trarão, se muito, evidencias científicas fracas de segurança e eficácias de medicamentos, sejam eles quais forem. “Corremos o risco de centenas de milhares de pacientes receberem medicações que, ao final, não saberemos se são eficazes e seguras contra a Covid-19, afirma o documento, datado de 19 de abril, que aponta uma série de critérios para a condução adequada da pesquisa cientifica sobre a doença
Com informações da Folha de S. Paulo e do FiercePharma
 
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