Aché aposta na biodiversidade brasileira, parcerias e IA para desenvolver remédios

Fonte: Época negócios

Uma investigação no bioma amazônico, que começou ainda em 2021, levou o Aché Laboratórios a aprovar no ano passado dois projetos para o desenvolvimento de novos medicamentos: um para o tratamento de psoríase e o outro, para doenças metabólicas. Ambos foram selecionados a partir de parcerias com universidades e startups, e fazem parte do programa Bioprospera, iniciativa que é um dos braços de inovação aberta da companhia, atualmente com nove projetos no pipeline. Ainda em fase inicial de pesquisa, os potenciais novos remédios refletem o esforço da farmacêutica para apostar em oportunidades que a biodiversidade brasileira pode trazer, relata Édson Bernes, diretor de Inovação da empresa.

“Você pode fazer a descoberta de novos fármacos de duas maneiras: ou no laboratório, onde você faz a síntese química do princípio ativo, ou acessando a biodiversidade e descobrindo, por meio do conhecimento tradicional dos povos do entorno daquela região, os princípios ativos existentes na biodiversidade que são responsáveis pelos efeitos do produto, e a partir daí desenvolver uma pesquisa”, explica o executivo. “Esses dois projetos nós acessamos por meio de prospecção que fizemos no bioma amazônico. Lançamos um edital junto com a academia e chegamos a esses dois”, relata.

O principal desafio do Aché é gerar inovação em uma indústria que requer tempo — tanto no desenvolvimento das pesquisas quanto nos testes de qualidade, eficácia e segurança. “Muitas provações são necessárias para atestar a eficácia e segurança dos produtos, além da escalabilidade para a área fabril. Tudo isso leva muita ciência e muito tempo. São ciclos mínimos de quatro ou cinco anos, quando falamos de produtos similares ou genéricos. É o período de tempo mais curto com o qual lidamos hoje”, relata Bernes.

Investimentos em inovação

Para atacar essa lacuna, o Aché separa a inovação em duas frentes:

  • “radical”, concentrada no desenvolvimento de novos fármacos (à qual está atrelada o programa Bioprospera, por exemplo, além das pesquisas internas da empresa nos laboratórios próprios, e que costuma demandar maior prazo de realização),
  • e “incremental”, concentrada no curto e médio prazo, focada em moléculas já existentes, mas buscando solucionar outras necessidades do meio médico — por exemplo, melhorar a aderência de pacientes aos tratamentos.

Há remédios, por exemplo, que demandam a ingestão de três doses ao dia pelo paciente. Com tecnologia farmacêutica, o Aché combina princípios ativos para criar um medicamento com dose única ou combinar mais de um princípio ativo. É o caso de produtos que já estão no mercado, como o Trezete, indicado para redução do colesterol, que combina dois princípios ativos: rosuvastatina cálcica e ezetimiba.

“Nesse tipo de inovação, a gente acaba mudando a interface do medicamento com o paciente, trazendo maior aderência para o tratamento e até melhor eficácia, porque evita esquecimentos, por exemplo, entre outras adversidades”, explica Bernes. 

Em 2023, a farmacêutica investiu R$ 250 milhões em inovação, 60% a mais do que em 2022, num pipeline de cerca de 200 projetos. Além disso, registrou 54 lançamentos. A previsão para 2024 é investir R$ 350 milhões, num pipeline de 280 projetos — entram nessa conta de investimentos todas as iniciativas da companhia em P&D, tanto em inovação radical quanto incremental.

O papel da indústria no ecossistema

Além do Bioprospera, o Aché criou, no ano passado, um programa de inovação aberta com foco mais amplo, no qual se inscreveram 500 startups. Para o primeiro ciclo, o laboratório escolheu quatro verticais: ESG, liderança no receituário, relevância frente aos clientes e eficiência operacional, que, somados, geraram cerca de 33 desafios.

Foram avaliadas 40 startups — oito seguiram para provas de conceito e, destas, quatro se tornaram fornecedoras da empresa. O próximo ciclo terá como temas principais “soluções para consumidores”, “novos serviços”, “novos tratamentos” e “dados”, segundo a companhia. O Aché não investe financeiramente nas startups com as quais trabalha — o foco não é aceleração ou aquisição de novos negócios, mas em encontrar fornecedores.

“Estamos sempre abertos a propostas. Essa prospecção feita no bioma amazônico, por exemplo, veio da academia, e os pesquisadores acabaram fundando uma startup. Esse movimento já é muito comum nos Estados Unidos, e embora ainda exista um gap nessa relação indústria-pesquisadores no Brasil, já vejo o cenário começando a mudar”, analisa o executivo.

“A indústria olhava para a academia com olhar de lentidão, e a academia, por outro lado, com algum receio de ser explorada financeiramente ou ter as ideias roubadas. Não existia uma amálgama no meio do caminho para entender o que ambas podem fazer juntas. Vejo um ponto bastante positivo porque as partes estão entendendo as suas funções dentro do ecossistema”, acrescenta.

Uma ajudinha da IA

A indústria farmacêutica vem passando por um processo de transformação e aceleração desde a pandemia — com novas terapias gênicas na vanguarda do desenvolvimento de medicamentos inovadores, especialmente em áreas como Oncologia, e de pesquisas de novas tecnologias no setor como um todo. No cenário brasileiro, o mercado farmacêutico continua em expansão, com previsão de crescimento de aproximadamente 10% para o ano de 2024, impulsionado pela transformação digital, adoção rápida de novas tecnologias e lançamentos de produtos.

“A consolidação do mercado farmacêutico brasileiro no top 5 global é uma tendência para 2024, superando a França, impulsionada pelo aumento da demanda por medicamentos biológicos, medicina de precisão, transformação digital e lançamentos inovadores, refletindo um setor dinâmico e orientado para o futuro”, avalia Melissa Angelini, membro do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relação com Investidores.

Para a analista, o crescimento de startups voltadas à saúde também é uma tendência, não somente no Brasil. “Elas estão investindo em big data e inteligência artificial para enfrentar questões regulatórias, reduzir custos e atender às demandas do consumidor”, observa.

O Aché criou um laboratório de ciência de dados que atualmente trabalha com 8 projetos de inteligência artificial (IA) aplicados no apoio aos times de inovação. Chamado de Inspire, é uma espécie de estrutura transversal, explica Bernes, que ajuda na tomada de decisões de como conduzir as pesquisas — essa decisão, otimizada pela IA, permite um monitoramento ativo de tendências, novas moléculas, entre outras novidades que podem surgir no setor.

“Antigamente, havia muitos dados, e eles ficavam espalhados. Até onde a mente humana alcançava, a gente tomava a melhor decisão. Com a IA, esse processo parte de uma avaliação multifatorial, que leva em conta os dados que nós mesmos geramos durante as pesquisas. Além disso, conseguimos avaliar a prospecção de produtos e projetos mundo afora. São muitos dados existentes nos mercados globais e temos um trabalho intenso de olhar para fora e entender o que encaixa com o mercado brasileiro”, diz Bernes.

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