Toxicologia na indústria farmacêutica

Por Egle Leonardi e Júlio Matos

A toxicologia investiga os efeitos adversos de substâncias químicas em organismos vivos. Na indústria farmacêutica, ela tem um papel crítico no desenvolvimento de medicamentos seguros e eficazes, envolvendo técnicas de avaliação de toxicidade para garantir que os medicamentos sejam seguros para o uso humano. Sem uma avaliação cuidadosa da toxicidade, os medicamentos poderiam causar efeitos adversos sérios e, em alguns casos, até mesmo a morte. Por isso, é fundamental que os laboratórios conduzam estudos robustos de toxicologia em todos os fármacos que são levados ao mercado.

O farmacêutico que deseja se especializar em toxicologia, visando à atuação na indústria, deve seguir as normas e regulamentações do Conselho Federal de Farmácia (CFF). A pós-graduação na área contribui para ampliar os conhecimentos do profissional em avaliação de risco toxicológico, análise toxicológica, toxicocinética, toxicogenômica, entre outros.

Além disso, espera-se que o farmacêutico também tenha habilidades em análise de dados, raciocínio lógico, comunicação clara e precisa, trabalho em equipe e atualização constante sobre as normas e regulamentações.

“Foi preciso a gente se desenvolver enquanto métodos analíticos, para assim termos métodos que pudessem avaliar as estabilidades, quando temos um produto de degradação, e acima da especificação, é onde a toxicologia entra. Demoramos um pouco para atuar mais de perto. Na hora que as coisas começaram a acontecer, foi quando a toxicologia foi sendo acionada e junto com ela toda a tecnologia e também essa reabertura da indústria para a toxicologia, onde começou a ser mais discutido, alguns toxicologistas foram entrando por meio do desenvolvimento analítico e ganhando de espaço”, relembrou Mariah Ultramari, PhD em Toxicologia e professora do CDPI Pharma – Centro de Desenvolvimento Profissional Industrial, durante Master Class sobre toxicologia para indústria farmacêutica promovida pelo CDPI.

A RDC 301/19 estabelece as Boas Práticas de Fabricação (BPF) de medicamentos no Brasil. Ela define as diretrizes que as indústrias farmacêuticas devem seguir para garantir que os medicamentos produzidos sejam seguros, eficazes e de alta qualidade. A sua publicação substitui a RDC 17/10 e trouxe atualizações significativas para as BPF de medicamentos no País. As principais mudanças incluem a inclusão de novos requisitos para a validação de sistemas computadorizados, o fortalecimento da gestão de riscos e a implementação de novos controles de qualidade e de produção.

Com mais de 15 anos de experiência na área, o farmacêutico-toxicologista da União Química e professor do CDPI Pharma, Leonardo Pinto, ressalta que apesar de a indústria ter começado o movimento acerca dos produtos de degradação, ainda faltava um melhor entendimento e necessidade do profissional toxicologista para avaliar o risco destes. Foi a RDC 301/19 que trouxe o nome toxicologista para o centro das atenções, bem como a necessidade de ter um profissional altamente capacitado para fazer a avaliação de risco de contaminação cruzada.

“O assunto impurezas é antigo, mas foi com a RDC 301/19 que houve necessidade obrigatória por regulação [do toxicologista] e hoje já vemos uma indústria mais madura e entendendo realmente a necessidade de um profissional para avaliar essas impurezas. Na indústria farmacêutica, lidamos com vários tipos de impurezas e é exatamente esse movimento regulatório de produtos de degradação, de resíduos de contaminação cruzada que convivemos diariamente. O toxicologista está atuando com impurezas que vêm de diversas áreas”, atesta o especialista.

Segundo ele, vive-se um momento de muitas oportunidades e desenvolvimento na indústria relacionadas à questão das impurezas, elevando o protagonismo do profissional toxicologista neste âmbito. 

“Acho que é importante trazer isso em mente, porque a indústria farmacêutica nacional tem uma cultura e característica diferentes do que a gente imagina dentro da indústria de inovação radical e multinacionais, porque somos muito consolidados em termos de fabricação de genéricos e inovação incremental. Muitos daqueles estudos pré-clínicos que usam animais, de maneira geral, não são feitos diretamente por nós, porque a segurança do medicamento, do IFA, já foi assegurada nesses estudos. O nosso papel hoje é trazer incremento de qualidade e segurança para esses produtos, avaliando o risco técnico dessas impurezas”, garante Pinto.

Os rumos da toxicologia na indústria farmacêutica

Para a professora do CDPI Pharma e coordenadora de Desenvolvimento Analítico da Aché Laboratórios Farmacêuticos, Ana Shimada, o desenvolvimento recente da participação do toxicologista na indústria farmacêutica representa um importante avanço tanto para o segmento industrial, como para a toxicologia. Juntas, ambas as áreas devem se interligar ainda mais para alcançar novas descobertas e conhecimentos em relação aos medicamentos.

“Pensando no avanço da indústria em si, acho que todo esse trabalho que fizemos de conhecer o nosso produto trouxe muita informação. Temos conhecimento da maioria das substâncias com que trabalhamos, e nos preocupamos com a segurança delas. Temos um ponto também importante de avanço da indústria nos desenvolvimentos, em metodologias cada vez mais sensíveis. Começamos [enquanto indústria farmacêutica] a detectar substâncias que já são conhecidas há muito tempo, como as nitrosaminas, que são um caso clássico”, expõe Ana.

Quanto ao avanço da toxicologia, ela destaca as avaliações toxicológicas e a redução dos testes em animais, bastante relacionado aos métodos alternativos que visam reduzir, substituir e refinar os estudos toxicológicos.

“Acho que temos muito onde avançar ainda nessa área, esse é o futuro da toxicologia e com certeza a indústria farmacêutica vai se beneficiar disso. Acho importante continuar a interação entre academia e indústria e vamos precisar aplicar de forma muito assertiva toda a tecnologia resultante dessa interação. Por fim, para juntar tudo isso, também acho que o futuro é de legislação. Pensando que todo nosso controle atualmente é seguido por uma legislação vigente, acho que também temos muito a avançar nesse sentido de discussões e entender mesmo o nosso produto para termos medicamentos seguros e esse conhecimento adquirido”, sentencia Ana.

O CDPI PHARMA é uma instituição de pós-graduação e capacitação que oferece treinamentos especializados e consultorias técnicas/científicas para profissionais e empresas do mercado industrial farmacêutico, sendo a empresa líder nesse segmento. Conheça mais sobre o tema tratado na Master Class na Pós-Graduação em Toxicologia Industrial (Formação de Toxicologistas para a Indústria Farmacêutica).

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